A Teoria do Caos e o Movimento Maker a Partir do Ensino da Robótica Alternativa.
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A cultura maker se fundamenta na perspectiva de que as pessoas são capazes de criar e construir projetos de diversas maneiras com os recursos que estão ao seu redor, utilizando a filosofia do “faça você mesmo”. A colaboração, coletividade, troca de experiências e o uso dos recursos que temos ao nosso alcance, são fundamentais para um processo educativo. Além disso, o “fazer com as próprias mãos” leva-nos a compreensão de que somos indivíduos naturalmente criativos e capazes de trazer soluções simples para a resolução de problemas em nosso cotidiano. Neste aspecto o movimento maker contribui significativamente para a formação do pensamento criativo e um ambiente sustentável. A seguir apresento uma reflexão que visa analisar o movimento maker, o pensamento criativo e a sua contribuição na criação de projetos tendo como ferramenta a robótica alternativa.
1. Teoria do Caos e o Movimento Maker
Para desenvolvermos a reflexão sobre a questão do pensamento criativo e o movimento maker, me permita trazer uma breve citação sobre a “teoria do caos” desenvolvida por Edward Norton Lorenz, meteorologista, matemático e filósofo, que desenvolveu trabalhos com os fundamentos matemáticos do sistema de equações da meteorologia nos laboratórios do MIT na década de 1960.
A “teoria do caos” é conhecida por sua descrição do chamado “efeito borboleta”. Norton nos permite refletir que pequenos eventos podem desencadear reações imprevisíveis, consequências e fenômenos caóticos. Conforme os pensamentos de Norton o “bater de asas de uma borboleta na Califórnia pode desencadear um furacão no meio do Atlântico.” (JOHNSON, 2014, p. 5).
Mas o que esta teoria tem a ver com o pensamento criativo e o movimento maker?
Vamos utilizar a ideia de Norton para refletirmos sobre o pensamento criativo e o movimento maker. O processo de construção das ideais surge de maneira “pequena” como uma inquietação, desejo de mudar algo, ou apenas refletir sobre determinado assunto, ainda que seja de maneira aleatória este processo pode gerar um caos em nossos pensamentos, causando certo desconforto e uma inquietação ao nosso estado de espírito, que no meu ponto de vista só pode cessar quando for colada em papel e passar por um processo de criação. Ou seja uma pequena indagação pode gerar reflexões profundas, descobertas revolucionárias e projetos transformadores. Neste sentido analisamos os desdobramentos que as ideias podem ter a partir do movimento maker que tem como foco principal “a cultura do faça você mesmo” e que respeita as características e as particularidades de seus criadores. Não importa se a ideia surgiu em uma garagem ou de um laboratório científico, o importante é partilhar seu experimento. O movimento maker tem a capacidade de criar com o que se tem e transformar o caos das ideias em algo produtivo e significativo para o coletivo.
2. Capacidade de criar com o que se tem
Um maker não se limita aos obstáculos, trabalha com suas ideias para transformar a partir dos materiais que tem ou que lhe são oferecidos. Ter poucos recursos para elaborar um projeto não deve ser um fator preponderante em relação a nossa capacidade de tornar o caos das ideias em transformação. Se você quer deixar um legado na história aprenda a trabalhar com os poucos recursos, pois são eles que lhe darão uma base sólida para avançar e experimentar suas ideias.
Como maker tenho aprendido a implantar esses projetos utilizando a robótica alternativa. Desde 2011 trabalho com o ensino da robótica para crianças e adolescentes, mas algo que sempre me inquietava muito era o fato deste ensino não ser acessível para todos, foi a partir desta inquietação que no decorrer dos anos conheci o movimento maker e a possibilidade de trabalhar com a robótica utilizando materiais alternativos, compreendi que há riquezas, recursos e oportunidades em tudo a minha volta. A partir das novas descobertas desenvolvi o Projeto Teclife Robótica junto a uma organização do terceiro setor situada no município de Fazenda Rio Grande na região metropolitana de Curitiba, o projeto consiste em levar robótica alternativa para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Para minha satisfação este projeto também foi desenvolvido em Burkina Faso, Sul da África. Mesmo com poucos recursos uma equipe se dispôs a ser treinada e aceitar o desafio de ensinar robótica e linguagem de programação às crianças de Burkina. Quando iniciamos com o Projeto Teclife Robótica em Fazenda Rio Grande, nunca imaginei que minhas ideias atravessariam o continente e ajudariam crianças de tão longe. O projeto na África se iniciou em 2018 e aos poucos foi ganhando forma e o mais importante transformando vidas e mudando realidades. Após contribuir com minhas ideias no projeto minha participação se finalizou. No ano de 2019 o “caos das ideias” começou a visitar minhas noites de sono, em meu coração surgiu uma inquietação que poderia ir além do que já havia construído em relação ao ensino da cultura maker, então em julho de 2019 nasceu desse caos o Projeto House Maker[1] que tem como foco unir a aprendizagem criativa [2] e a robótica alternativa. Tal projeto tem sido minha paixão e motivação nos últimos dias, pois a partir dele estou possibilitando para crianças e adolescentes a reflexão e aprendizagem contribuindo com soluções acessíveis para a resolução de problemas cotidianos.
3. Considerações finais
Sou adepto da perspectiva maker por acreditar no lema “faça você mesmo” esta afirmativa possibilita o ir além, permite-nos testar nossas ideias sem limites, criar conexões com outras pessoas não se importando com a distância, grau de instrução e muito menos os recursos que possui. Não importa o que for, continue criando e acreditando, transforme o caos das suas ideias em uma jornada e sem sombra de dúvidas por mais simples que seja sua ideia mudará a humanidade. O “faça você mesmo” é a mola propulsora em relação ao caos das ideias, serve de oxigênio para inspirar sua jornada. Gostaria de finalizar esta reflexão com a famosa frase do General Máximus do filme “O Gladiador” interpretada pelo ator Russel Crowe que disse: “O que fazemos na vida ecoará na eternidade”. Juntar o caos das ideias aos recursos que possuímos e a cultura maker nos levará a criarmos projetos e soluções que podem mudar realidades e transformar o mundo.
Referências Bibliográficas
JOHNSON, S. How we got to now: Six innovations that made the modern world. Riverhead Books, 2014.
TÍTULO DO FILME: GLADIADOR (Gladiator, EUA, 2000)
DIREÇÃO: Ridley ScottELENCO: Russel Crowe, Joaquin Phoenix, Richard Harris, Connie Nielsen, Oliver Reed, Derek Jacobi, Ralph Moeller, Spencer Treat Clark; 154 min.
RESNICK, M. Jardim de Infância para a vida toda. Por uma aprendizagem criativa, mão na massa e relevante para todos. Porto Alegre: penso 2020.
http://download.inep.gov.br/download/internacional/pisa/2010/letramento_cientifico.pdf acesso em 16/07/2020 às 23:56
https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/books/article/viewFile/5856/2508#page=111 acesso em 16/07/2020 às 00:09
Movimento Maker https://www.people.com.br/noticias/robotica/o-que-e-o-movimento-maker acesso em 16/07/2020 às 00:49
Aprendizagem Criativa https://littlemaker.com.br/o-que-e-aprendizagem-criativa/ acesso em 18/07/2020 às 14;14
[1] Para saber mais sobre o Projeto House Maker acesse https://www.facebook.com/projetohousemaker
https://www.youtube.com/watch?v=cks0SMrmSNE
[2] Aprendizagem Criativa propõe um processo em que a exploração é a palavra chave. Esse processo parte da Espiral da Aprendizagem Criativa, que consiste nos momentos: Imagine, Crie, Brinque, Compartilhe e Reflita; cada uma dessas etapas traz um nível diferente de compreensão dos aprendizados (mesmo que a criança não perceba que está aprendendo!) e a cada vez que a espiral se repete, toda a bagagem e repertório anterior contribui para um processo ainda mais complexo.